São muitos os fatores que levam os executivos de uma grande empresa a decidirem por um caminho ou outro, mas invariavelmente o custo benefício sempre está envolvido. Outros fatores que podem influenciar nas decisões são: conhecimento e entendimento sobre o tema em pauta, qualidade da informação recebida, percepções pessoais, interesses de longo prazo, entre outros.
Visto que a sustentabilidade é, ao mesmo tempo, um tema recente no mundo empresarial, pouco entendível pelos executivos, com grande dificuldade de mensuração de resultados a curto prazo e que engloba diversas frentes e múltiplos stakeholders, os profissionais que atuam nesta área precisam ter um elevado conhecimento sobre as técnicas de negociação, pois o conflito está no cerne de todas os projetos.
São 4 os dilemas que cercam a tomada de decisões em sustentabilidade:
1. Segundo a heurística da disponibilidade, a avaliação que um indivíduo faz sobre determinado assunto é baseada nas informações que este guarda em sua memória. Neste caso, assuntos frequentes e mais recentes são lembrados de maneira mais representativa e imediata. Como sabemos, o tema sustentabilidade não é facilmente compreendido pelos profissionais que não atuam diretamente na área, incluindo os executivos tomadores de decisão. Por isso, é primordial estabelecer conexões que façam com que esses executivos internalizem os conceitos de forma ampla (pelo viés econômico, social, cultural e ambiental) e façam o vínculo com o negócio.
2. Segundo a teoria da perspectiva, o tomador de decisão tende a dar mais importância para as possibilidades de perda do que aos ganhos que um projeto pode proporcionar. Por isso, a sustentabilidade precisa ser vista como área estratégica dentro das empresas, caso contrário torna-se impossível elevar o nível dos projetos, vinculando as ações com o negócio e envolvendo as áreas de maior relevância e rentabilidade para as organizações, ou seja, aquelas que geram lucro. Se isso não ocorrer, a área de sustentabilidade ficará restrita a projetos paliativos, dissociados do negócio e com pouco valor para a empresa.
3. Justamente pelo fato da sustentabilidade envolver diversas frentes (econômica, social, cultural e ambiental) e estar relacionada com stakeholders estratégicos (público interno, investidores, clientes, comunidade, entre outros), com necessidades e objetivos diferentes frente a empresa, o processo de decisão tenderá sempre para o lado que tiver o melhor custo benefício, que normalmente passa pelo viés do lucro.
4. A racionalidade do processo decisório também é um dilema em sustentabilidade. De acordo com Herbert Simon: “1. Cada julgamento pessoal é delimitado em sua racionalidade; 2. As pessoas tentam tomar decisões racionais, mas, muitas vezes, não o fazem devido as suas limitações cognitivas e pela assimetria da informação; e 3. A maioria das pessoas é apenas parcialmente racional, e que é, de fato, emocional-irracional no restante de suas ações”. A racionalidade em uma empresa está centrada no lucro. Por isso, é importante se cercar de métricas que demonstrem o quanto o investimento em sustentabilidade não só garante rentabilidade como também diminui custos desnecessários.
Por todos esses dilemas, é importante que os projetos em sustentabilidade sejam finamente estruturados e recheados de argumentos que levem o tomador de decisão a perceber mais ganhos do que perdas. Avaliações de impactos financeiros que incluam a perspectiva socioambiental, retornos previstos, riscos da não realização, entre outros, são pontos fundamentais a serem levantados e disponibilizados para o tomador de decisão.
As etapas de preparação e criação de valor para a tomada de decisão são de grande importância quando tratamos de sustentabilidade. Buscar argumentos voltados para o negócio, que abonem a proposta e gerem valor para a tomada de decisão, envolve um trabalho minucioso. Suposições errôneas, argumentos mal estruturados, dados pouco confiáveis e valores irreais na proposta de orçamentos, são itens que podem levar a não aprovação de um projeto. Por isso, é preciso:
- Garantir a interdisciplinaridade na condução das ações, de forma que todas as áreas enxerguem o seu papel no processo de sustentabilidade empresarial, aumentando a visibilidade e importância das ações perante o público interno;
- Gerar informações consistentes, com real valor para o executivo, e de forma constante. Para que ele seja sucessivamente exposto aos conceitos que ainda não compreende de maneira integral.
- Desenvolver mecanismos para auferir valor real (monetário) as ações de sustentabilidade e que estejam atrelados ao negócio da empresa.
- Definir o que é negociável e o que é imprescindível para o sucesso do projeto;
Ferramentas e metodologias para a tomada de decisão podem facilitar o processo. O uso de softwares que armazenem indicadores para a comparação de dados relevantes ou que ofereçam informações detalhadas sobre determinados públicos são essenciais. Metodologias de engajamento de stakeholders, também podem ajudar a antever situações e são fonte de informação confiáveis e detalhadas sobre as necessidades dos públicos prioritários. Todos esses mecanismos facilitam a construção de uma rotina para munir os executivos com com informações relevantes para a tomada de decisão, gerando credibilidade e inserindo a área na estratégia do negócio.